Come out,come out, wherever you are!

A expressão “Coming out”, pra quem não sabe, significa o popular sair do armário, se assumir, chutar o balde pra sociedade, apertar o “FODAM-SE” e ser feliz. Mas para algumas, infelizmente, ainda não é uma tarefa fácil, até porque é um mundo totalmente novo.

Confesso que a minha saída do armário não teve lá esse “glamour” todo. Sempre fui bofe, já nasci assim. Só que tinham esquecido de me avisar e eu namorei e me enrolei com inúmeros garotos até os 18 anos. Até que a minha chefe de trabalho da época (um bofe, diga-se de passagem) “notou o meu potencial” e investiu em mim com toda fúria que uma mulher pode ter. Ela explorou meu ponto fraco: a curiosidade. E me fez quebrar todos os tabus, paradigmas e preconceitos. É, eu tinha preconceito...pra mim, mulher com mulher dava jacaré. Ela, então foi me conduzindo com jeito, dia a dia, pouco a pouco ela me apresentava um universo novo. Ficávamos cada vez mais próximas, uma amizade que foi adquirindo muitas cores em muito pouco tempo.

Eu adorava vê-la passar horas contando as suas peripécias ao longo dos seus muito e bem vividos quase 30 anos de idade. E deixava meu ego se inflamar com suas cantadas sutis e esporádicas. Esporádicas até certo ponto, porque quando sentiu que tinha preparado o terreno ela passou a me atacar por todos os lados. Acho que estávamos apaixonadas, mas eu tinha medo de dar o ponta pé inicial. Ser beijada por uma mulher era uma coisa que me deixava completamente pirada, tsunamis de pensamentos me invadiam sempre que eu respirava. Eu tinha um namoradinho na época (gay e mais novo do que eu em quem eu adorava mandar e desmandar e que no fim das contas eu não tava nem ai pra ele).

Ela me fazia desejar aquele beijo, me fazia quase implorar. Eu pensava naquilo 24 horas, até quando não queria me vinham os tais pensamentos. Um dia, ela criou a situação. Me chamou em particular na sua sala, trancou a porta, ficamos de papo lá, ela massageou as minhas costas, pegou na minha mão. E eu fiquei tão ansiosa que na hora H não consegui beijar. Declinei ao pedido dela. Ela então me falou que se não acontecesse naquele dia, não aconteceria mais. E eu não dei o braço a torcer, mas sai da sala com a cabeça confusa e o coração partido. Ela sabia que eu voltaria. Ah, e como sabia! Fiquei tão transtornada que voltei lá no mesmo dia, já passava da hora do expediente dela, mas ela estava só me esperando. Ela me conduziu até a sala dela, encostou a porta, nos olhamos e ela me beijou. Correspondi o beijo, mas minhas mãos ficaram paradas. Foi rápido. Pronto (Nem doeu). Saímos da sala. Eu fui embora. Ela também foi. No outro dia ficamos sós, ela me beijou e eu fiquei brava porque a porta estava aberta, ninguém tava lá, mas só de pensar na possibilidade de alguém chegar me apavorava.

Ela queria me namorar, aliás me queria como amante, já que ela era casada e tava mal com a esposa. Com essa descoberta, meu namoro que era só uma distração, ia de mal a pior. Eu simplesmente tinha “me encontrado” e não queria mais o menino. Terminei com ele e fui ser feliz com as meninas. Fiquei com meninos uns meses ainda, mas isso só me fazia ver que eu definitivamente não gostava de homens. E eu fiquei só com as meninas.

Moral da história: Foi a melhor coisa que eu já fiz na vida. Descobri o que faltava pra ficar completa. Sei que hoje as coisas estão bem mudadas. Está, cada vez mais fácil, abrir a portinha do armário e viver livremente. Mesmo assim ainda tem quem precise sofrer de alguma forma de preconceito pra se assumir (seja dentro da família, seja diante dos amigos ou até consigo mesmo). “Coming out!*” Estas são as palavras de ordem. Seja feliz assim como você é ou como você quer ser.

*Sair do armário